Catingueiro por paixão, Elomar Figueira Mello foi citado nas Aulas de "Leitura e Produções de Texto", da Professora Dilma, da UNEB, Curso de Pedagogia, que está sendo Ministrado no Centro Educacional Professor Emanuel Coelho Ferraz, em Caraíbas!
Elomar com seu violão em sua Fazenda Gameleira no município de Vitória da Conquista.
Xangai e Elomar - amigos!
Dia da Matrícula - 15 de Junho de 2015.
Primeira Aula - abril de 2016.
Atividades no Terceiro dia de aula - 3 de Abril de 2016.
A transformação cultural em apenas três dias de aula já é um ganho - Elomar Figueira Mello. Eu, que vim de Minas Gerais, de tão distante já o conhecia, e os alunos, vizinhos de Elomar não o conhecia.
A Professora Dilma disse que Elomar é estudado em curso da UFMG, conhecido e admirado no mundo inteiro, essa informação ficou bem marcada aos alunos. Então vamos trazer e destacar a reportagem abaixo sobre Elomar:
Elomar, Poeta e Trovador Místico da Caatinga
Elomar Figueira Mello, músico e poeta singular, vive no Interior da Bahia compondo suas músicas. Em 1973 gravou um elepê que até hoje não se encontra onde comprar. Foi elogiado por pouquíssimos: continuou ignorado por muitos. Trovador místico, arquiteto criador de bodes, inspirador de Henfil na criação de Francisco Orelhana (o verdadeiro existe e mora lá na Caatinga, às margens do Rio Gavião), e da graúna, Elomar é uma estranha mistura. "Prumodi" compreendê-lo, é preciso viajar 500 e poucos quilômetros, de Salvador até Vitória da Conquista, embrenhar-se com ele numa estradinha de 102 quilômetros, que se percorre de carro, em quatro horas; e, depois andar, mais quilômetro e meio a pé, atravessando na área seca os dois braços do Gavião, vendo os corpos dos cabritinhos mortos ao sol. Tudo isso faz parte do aprendizado. Tudo isso - apenas isso! - explica o homem inquieto, cercado de morte, empenhado em cantar a vida eterna". (Tania Pacheco, setembro/-quase primavera de 1976) Em 1979, quando a atuante Associação Paulista de Críticos de Arte considerou "Na Quadrada das Águas Perdidas" como o melhor disco daquele ano, a surpresa foi grande: afinal, quem era Elomar, o solitário compositor - intérprete das canções rudes, de letras estranhas, exigindo a atenta leitura do texto acompanhando o álbum para conseguir entender as palavras - muitas das quais necessitando de um dicionário para a devida interpretação? A crítica paulista descobria com atraso de seis anos aquilo que alguns poucos brasileiros - entre os quais nos incluímos - já havia percebido em 1973: a força e originalidade do mais importante criador de raízes populares surgido nos anos 70: Elomar Figueira de Mello, baiano de Vitória da Conquista, arquiteto que optou pelo canto da caatinga, pela criação de bodes e por ser apenas um cantador na melhor tradição medieval. ... DAS BARRANCAS DO RIO GAVIÃO - Roberto Sant'Anna, um infatigável Ziegfield tupiniquim, lançador de tantos talentos - do Quinteto Violado em 1971 ao Luís Caldas, atual desbunde baiano com seu "Fricote", foi quem, há 13 anos passados fez com que a música originalíssima de Elomar chegasse ao disco. Convenceu o arisco sertanejo a entrar num estúdio e gravar 12 de suas mais belas canções - de imagens notáveis, enriquecidas por sua sonoridade única. "... Das barrancas do Rio Gavião", título do elepê (Philips/Polygran, reeditado em 1978 - e ainda nas lojas) foi um desbum para quem sabe ver/ouvir o que o Brasil tem de mais belo.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de março de 1986
'Deus me fez poeta, não cantor', diz o cantador e violêro Elomar
Artista interrompe reclusão da fazenda para tocar em São Paulo, que abre exposição sobre sua obra. Sem fotografias. Também ninguém arriscou fotografá-lo ou filmá-lo no show de ontem (18)
por Vitor Nuzzi, da RBA publicado 19/07/2015 11:12, última modificação 20/07/2015 09:25
REPRODUÇÃO/YOUTUBE
São Paulo – Elomar Figueira Mello, baiano de Vitória da Conquista, 77 anos (completará 78 em dezembro), casado com Aldamária, três filhos (Rosa Duprado, João Ernesto e João Omar), 16 discos. Pouco mais se sabe desse artista que raras vezes sai de seu refúgio para tocar. Ontem (18) foi uma dessas ocasiões – haverá mais duas apresentações, uma extra, neste domingo, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, que Elomar chamou de "capital do estado do sertão". O compositor rompe a aura de mistério que o cerca com humor e o jeito simples de caboclo. Um caboclo erudito, exigente na interpretação. "Meus acordes são complicadíssimos", diz, ao querer "pular" uma música que não tocava desde "sei lá". A plateia não deixou.
As apresentações deste fim de semana fazem parte da Ocupação Elomar, aberta ontem no Itaú Cultural, na Avenida Paulista. Ali estão ilustrações, vídeos, livros, gravuras, cartas, documentos, raridades de seu trabalho musical, inclusive em fitas cassete, canções disponíveis para audição e até tiras de Henfil – que criou um de seus personagens, o Bode Francisco Orelana, inspirado no músico, criador desses animais. A exposição busca recriar a fazenda onde o artista mora, no sertão da Bahia. Fotos, só de bodes e da natureza. Elomar, além de não dar entrevista, não permite ser fotografado. E conseguiu um fenômeno para os dias atuais: durante a apresentação, ninguém arriscou fotografá-lo ou filmá-lo. Antes do show, a organização já havia feito esse apelo, falando da necessidade de cumprir um acordo feito "no fio do bigode" com o artista. Segundo Elomar, o que vale, para um artista, é a obra.
A apresentação nem sequer foi gravada pela casa, ao contrário do que costuma ocorrer. A única gravação foi para os arquivos da Fundação Casa dos Carneiros, referência à fazenda onde mora Elomar, no povoado da Gameleira, distrito de Iguá, a 20 quilômetros de Vitória da Conquista. A fundação foi criada em 2007 para preservar e divulgar a obra literária e musical de Elomar e outras manifestações artísticas. Chamada de "Conquista" pelos baianos, a cidade é a terceira maior da Bahia, fica a aproximadamente a 500 quilômetros de Salvador e é conhecida pelo clima frio. Durante o show, Elomar fez referência à neblina frequente no local, que chega a impedir o pouso e partida de aviões durante vários dias.
Sem fotos
Para a ocupação inaugurada ontem, sugeriram que ele posasse para uma fotografia. Ele sugeriu, então, que se usasse um poema, chamado Meu Retrato (leia no final do texto). Para "compensar" a ausência de fotografias, a exposição traz várias imagens feitas pelo artista Juraci Dórea, baiano de Feira de Santana e amigo de Elomar, para quem já trabalhou em alguns discos do compositor. O evento, que começou na lua nova, vai até 23 de agosto, na lua crescente.
À guisa de imagem, poderia se usar, talvez, O Violeiro, uma de suas canções mais conhecidas, lançado em seu primeiro compacto, gravado em 1968, e incluída no disco Das Barrancas do Rio Gavião, de 1972. E que não foi cantada na apresentação de ontem à noite.
Vô cantá no cantori primêro
As coisas lá da mĩa mudernage
Qui me fizero errante e violêro
Eu falo sero e num é vadiage
E pra você qui agora está me ôvino
Juro inté pelo Santo Minino
Virge Maria qui ôve o qui eu digo
Se fô mintira me manda o castigo
Apois pra o cantadô e violêro
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhêro
Viola, furria, amô, dinhêro não
As coisas lá da mĩa mudernage
Qui me fizero errante e violêro
Eu falo sero e num é vadiage
E pra você qui agora está me ôvino
Juro inté pelo Santo Minino
Virge Maria qui ôve o qui eu digo
Se fô mintira me manda o castigo
Apois pra o cantadô e violêro
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhêro
Viola, furria, amô, dinhêro não
"Minha música é fora de moda, cafona", diz o cantor durante o show. "Não consegui me modernizar. Com 16 anos, eu já tinha 100", afirma, arrancando risadas, o que se repetirá várias vezes. Ele conta que pediu à produção que providenciasse partituras de tamanho maior, porque esquecera seu "espiante", referindo-se aos óculos.
Autodidata
Filho de um tangedor de gado (Ernesto) e de uma costureira (Eurides), Elomar fez Arquitetura na Universidade Federal da Bahia. Ali também participou, durante alguns meses, de seminários livres de música. Mas sua formação musical é autodidata.
Elomar divide o palco com um dos filhos, o maestro João Omar, e com o "cavaleiro" Heraldo do Monte, violonista de longa data, integrante do célebre Quarteto Novo, de curta duração, nos anos 1960: Heraldo, Theo de Barros, Airto Moreira e Hermeto Pascoal, que entrou por último (até então, o grupo era o Trio Novo). Participam ainda o violeiro Chico Saraiva e violoncelista Gabriela, ainda estudante de música, como Elomar diz ao apresentá-la.
Em 1982, Elomar e Heraldo participaram do disco ConSertão, ao lado de Arthur Moreira Lima e do "saudosíssimo" Paulo Moura, conforme lembra o compositor. Três anos antes, o pianista Arthur Moreira Lima assinaria com Elomar o disco Parcelada Malunga, gravado ao vivo, com participações de Heraldo, Xangai e José Gomes. Outra obra conhecida, e cultuada, é o LP Cantoria, que ganharia três álbuns, com as presenças de Elomar, Xangai, Geraldo Azevedo e Vital Farias. O primeiro disco é de 1984. O guia da ocupação lembra que, naquele ano, Elomar "passou a trabalhar sua obra erudita e adentrar no universo das óperas, dos concertos, das antífonas e da escrita orquestral". O próprio Elomar projetou um teatro (Domus Operae) dedicado à montagem de óperas brasileiras, como o seu Auto da Catingueira.
Na música, ele diz se considerar, acima de tudo, um compositor. "Deus me fez poeta, não cantor", diz ao público. "Alguns dizem que eu tenho voz bonita, mas eu nunca ouvi", acrescenta, enquanto derrama sua melodia e brinca com as afinações e desafinações dos instrumentos. "Deixa eu dar uma passada", diz a certa altura João Omar, tomando o violão das mãos do pai. Este começa a dedilhar o violão do filho, e faz graça. "Parece uma orquestra... Foi comprar lá na Espanha. Um dia vou comprar um deste." Rápido, João pega seu instrumento de volta, para "protesto" do pai. "Tava gostando...", diz, já rindo.
No início do show, ele entra apenas depois que João Omar toca os primeiros acordes. Mas sua voz já é ouvida da coxia. E vem Elomar no escuro, na penumbra, de capa e chapéu. A capa ele tira, o chapéu fica. No final, também sairá na escuridão, cantando. Com os diversos elementos que compõem a sua obra, o artista narra o seu universo, a vida de sua terra, o amor, a vida e a morte, a religiosidade, o misticismo. Com seu violão e sua voz, transporta o público para a terra dos Carneiros.
Meu RetratoEu já nasci pronto, um poeta puroQue me desculpem aqueles que não o sãoÀs vezes anjo mais pra pecadorFera indomada estando com a razãoMais dado ao riso bem pouco ao furor
Não sou de pegar a coisa que caiChutando-a a um canto alguém depois que o façaConfesso mĩa ogeriza asco horrorAos poderosos ao homem violentoAo mentiroso e à estupidez da massaConhecedor de Física e MatemáticasEsculhambo com prazer toda a ciênciaQue mente e trapaceia em toda a existênciaE a serviço dos maus põe suas práticasPra terminar esta triste figuraCom uãs pinceladas mais em branco e pretoSem coloridos e em tosca molduraAqui deixo esboçado meu retrato
Não sou de pegar a coisa que caiChutando-a a um canto alguém depois que o façaConfesso mĩa ogeriza asco horrorAos poderosos ao homem violentoAo mentiroso e à estupidez da massaConhecedor de Física e MatemáticasEsculhambo com prazer toda a ciênciaQue mente e trapaceia em toda a existênciaE a serviço dos maus põe suas práticasPra terminar esta triste figuraCom uãs pinceladas mais em branco e pretoSem coloridos e em tosca molduraAqui deixo esboçado meu retrato
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