EMINÊNCIA PARDA
QUALQUER SEMELHANÇA... EXISTEM ESSES COLÓQUIOS, QUE É BOM À LUZ DA PROPORCIONALIDADE TEMPORAL
MANDA QUEM PODE E OBEDECE QUEM TEM JUÍZO
Data: 07 maio 2012 - Hora: 18:14 - Por: Portal JH
Desde priscas eras existem personagens obscuras que
oficialmente não aparecem nas esferas políticas, porém exercem uma fortíssima influência
nas decisões dos governantes. Aquele que responde pelo poder não dá nenhum
passo sem consultá-lo. O domínio, em determinadas circunstâncias, é tamanho que
o governante pode ser substituído e até deposto quando não segue rigorosamente
as orientações. Essa figura dominante é a “eminência parda” do poder.
Na era medieval dizia-se que ele ficava atrás do trono do
rei de onde emanava todo o seu despotismo. A expressão “eminência parda” (do
francês “éminence grise”) originou-se na França do século 17 quando o frei
capuchinho, François Lecrerc du Tremblay (1577-1638), conhecido por padre José,
tornou-se uma espécie de “braço direito” do cardeal Richelieu (1585-1642),
então primeiro-ministro do rei Luís XIII (1601-1643). O nome deriva
provavelmente da vestimenta parda (hábito) que o frei Lecrerc usava.
Ao longo da história, essa espécie de assessor
todo-poderoso, mesmo operando secretamente, tornou-se famosa com os seus
“conselhos” nem sempre oficiais. A inexperiência e a insegurança do chefe
favorecem a sua presença. A história está repleta de exemplos de eminências
pardas. Aliás, o termo tornou-se mais consistente e usual, após a publicação da
biografia de Lecrerc, elaborada pelo escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963)
e publicada em 1941.
A história do Chile, por exemplo, cita a figura polêmica de
Diego Portales (1793-1837), ministro de Estado de alguns presidentes e que
durante sete anos (1829-1836) foi uma espécie de eminência parda, líder e
mentor intelectual desses governos. Na França, o rei Luís XVI (1754-1793) teve
na figura do conde de Maurepas (1701-1781) o seu assessor que segundo o
historiador Bernard Vincent, se autodenominava “um simples mentor, um útil
confidente, uma eminência parda tão apagada quanto solícita”.
No Japão, o general Hideki Tojo (1884-1948), tornou-se
primeiro-ministro em 1941. Era subalterno ao imperador Hirohito (1901-1989) que
aprovou todas as suas decisões, principalmente militares. Até os Estados Unidos
tiveram a sua eminência parda em um caso “sui-generis”. Trata-se da segunda
esposa do presidente Woodrow Wilson (1856-1924), a primeira dama Edith Wilson
(1872-1961). De tanto influenciar nas decisões políticas do marido chegou a ser
chamada Senhora Presidente.
No Brasil, a revolução militar de 1964 teve o seu mentor
teórico – o general Golbery do Couto e Silva (1911-1987). Formado pela Escola
de Estado-Maior do Exército, Golbery foi estagiário da famosa Escola Militar
Americana “Fort Leavenworth War School”. É apontado como o idealizador do
movimento político-militar de 1964. Exerceu enorme influência principalmente
durante o governo Castelo Branco (1900-1967).
Voltou no governo Ernesto Geisel (1908-1996) para ser chefe
da Casa Civil. Golbery não foi apenas o mentor da revolução, para o jornalista
Elio Gaspari, amigo e herdeiro do seu arquivo pessoal, o general juntamente com
o presidente Geisel conseguiram também “desmontar a ditadura”. Golbery, apesar
de não desejar a democracia, tinha idéias que não se coadunavam com a linha
dura de alguns militares. Exonerou-se em 1981.
As intervenções mais recentes dessa infausta figura em
âmbito internacional vieram de Cuba e Moscou. O novo presidente cubano Raúl
Castro afirmou com toda a convicção que não hesitará em consultar o irmão Fidel
em assuntos políticos delicados. O velho ditador renunciou ao cargo, porém
continua com as atribuições típicas de uma eminência parda. Em Moscou, o
ex-mandatário Dmitri Medvedev, enquanto presidente, seguiu a cartilha de Putin
que voltou recentemente ao poder. Em ambos os casos, os caudilhos saíram de
cena, mas continuaram dando as cartas.
Após a descrição detalhada de seus atributos, será possível
encontrar alguma eminência parda no Brasil do século 21? Deixo este bom
exercício de memória para o caro leitor.
Ailton Salviano
Geólogo/jornalista
E AINDA - APROFUNDANDO
Eminência parda (no Francês,
Eminence Grise) era como chamavam François Leclerc, Marquês de Tremblay
(1577-1638), que se retirou da vida mundana e ingressou na ordem dos
Capuchinhos com o nome de Père Joseph (Frei José), tornando-se
o secretário particular, conselheiro e confidente do Cardeal Richelieu, o
verdadeiro homem forte da França de Luis XIII. A influência que Père Joseph
exercia sobre o Cardeal fez dele um das mais poderosas figuras do reino, embora
não ocupasse nenhum cargo oficial. É interessante ver o que Alexandre Dumas diz
sobre ele no 1º capítulo de Os Três Mosqueteiros, quando roubam
de D'Artagnan a carta que ele levava para o Senhor de Tréville, Comandante dos
Mosqueteiros do Rei:
"Depois do rei e do senhor cardeal, era o
Sr. de Tréville o homem cujo nome talvez fosse mais freqüentemente pronunciado pelos
militares e até pelos burgueses. É verdade que havia também Père Joseph, mas o
nome deste último só era proferido baixinho, tão grande terror inspirava a
Eminência Parda, como chamavam ao secretário do cardeal".
Eminência é, até hoje, o
tratamento dispensado aos cardeais. Richelieu, que usava o tradicional hábito
púrpura tradicional, era conhecido como a Eminence Rouge, enquanto
Père Joseph, por causa da cor do hábito dos capuchinhos, era apelidado, um
tanto ironicamente, de Eminence Grise. Esta expressão serve hoje para
designar qualquer pessoa que se mantém nos bastidores da vida pública mas
exerce secretamente o poder. É, no fundo, aquele que realmente manda, mas não
aparece.
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